O MST: Nossa história

O Embrião do MST

A semente para o surgimento do MST talvez já existia quando os primeiros indígenas se levantaram contra a mercantilização e apropriação pelos invasores portugueses do que era comum e coletivo: a terra, bem da natureza.

Como imaginar o MST sem o exemplo de Sepé Tiarajú e da comunidade Guarani em defesa de sua terra sem Males, da resistência coletiva dos quilombos ou de Canudos ou sem o aprendizado e a experiência das Ligas Camponesas ou do Movimento de Agricultores Sem Terra – Master? Por tudo isso, nos sentimos herdeiros e continuadores das lutas pela democratização da terra e da sociedade.

1981 – A Encruzilhada Natalino

No final da década de 1970, quando as contradições do modelo agrícola se tornam mais intensas e sofrem com a violência de Estado, ressurgem as ocupações de terra. Em setembro de 1979, centenas de agricultores ocupam as granjas Macali e Brilhante, no Rio Grande do Sul. Em 1981, um novo acampamento surge no mesmo estado e próximo dessas áreas: a Encruzilhada Natalino, que se tornou símbolo da luta de resistência à ditadura militar, agregando em torno de si a sociedade civil que exigia um regime democrático.

As ocupações de terra se tornaram ferramenta de expressão camponesa e de contestação do autoritarismo.

Uma das primeiras demonstrações de força, por parte dos Sem Terra, ocorreu em 25 de julho de 1981, em um ato público com mais de quinze mil pessoas, noticiado pela imprensa de Porto Alegre como “a maior manifestação realizada por trabalhadores rurais na história do Rio Grande do Sul”.

Em todo o país, novos focos de resistência à ditadura das armas e das terras surgiram: posseiros, arrendatários, assalariados, meeiros, atingidos por barragens. As ocupações de terra se tornaram ferramenta de expressão camponesa e de contestação do autoritarismo.

Boletim Sem Terra

Nós somos mais de 500 famílias de agricultores que vivíamos nessa área (Alto Uruguai) como pequenos arrendatários, posseiros da área indígena, peões, diaristas, meeiros, agregados, parceiros, etc. Desse jeito já não conseguíamos mais viver, pois trás muita insegurança e muitas vezes não se tem o que comer. Na cidade não queremos ir, porque não sabemos trabalhar lá. Nos criamos no trabalho na lavoura e é isto que sabemos fazer.

Assim se apresentam os “colonos acampados em Ronda Alta”, em carta publicada na capa da edição nº 1 do “Boletim Informativo da Campanha de Solidariedade aos Agricultores Sem Terra”, o que posteriormente se transformou no Jornal Sem Terra.

Em 1981, ainda em período de Ditadura Militar, as famílias acampadas da Encruzilhada Natalino estavam cercadas pelas tropas do exército brasileiro comandada pelo Coronel Curió. Imediatamente, o acampamento teve uma grande repercussão, e muitas entidades foram se associando a campanha de solidariedade aos sem terra. Com isso, uma das principais ações tiradas foi a criação de um Boletim, com o objetivo de divulgar a Encruzilhada Natalino e solicitar o apoio das comunidades, entidades, sindicatos e outros setores da sociedade civil. Ao mesmo tempo, o Boletim serviu enquanto um instrumento de agitação para a base acampada, em que via nele toda a manifestação de apoio, de bispos, da igreja, de parlamentares, do Brasil inteiro com aquela luta.

1982 – 5ª Romaria da Terra

A partir da luta dos Sem Terra, o Acampamento Encruzilhada Natalino obteve repercussão nacional e internacional, porém não conquistou a esperada Reforma Agrária. Os trabalhadores resistiriam à repressão militar federal e estadual e a precariedade das condições de vida. Sobreviveram ao campo de concentração.

A solução para o impasse foi anunciada na 5ª Romaria da Terra, em 23 de fevereiro de 1982. A igreja católica adquiriria uma área de 108 hectares em Ronda Alta. Ali seria montado um abrigo provisório para as famílias, coroando a resistência de 208 dias à repressão militar no acampamento com uma vitória.