Mulheres trabalhadoras do RS lançam manifesto

 
Da Página do MST

Leia o manifesto da jornada das mulheres da da Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) e do Levante da Juventude, lançado nesta terça-feira (1/3).


Manifesto político das mulheres trabalhadoras do campo e da cidade

 
Da Página do MST

Leia o manifesto da jornada das mulheres da da Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) e do Levante da Juventude, lançado nesta terça-feira (1/3).


Manifesto político das mulheres trabalhadoras do campo e da cidade

Nós saímos às ruas neste mês de março para lembrar que foi com muita luta que nós mulheres conquistamos espaços na sociedade e é só com as lutas que vamos acabar com as desigualdades, com as várias formas de violência que enfrentamos no dia-a-dia. Por isso, o 8 de março não é um dia para recebermos flores, mas para mostrarmos quantos espinhos ainda nos maltratam.

É com esta compreensão de que só a luta muda nossa história que nos últimos anos realizamos lutas contra o agronegócio no Rio Grande do Sul. Isso porque a expansão dos monocultivos expulsam as mulheres camponesas e suas famílias do campo e geram para as cidades alimentos contaminados com os agrotóxicos. Este ano estamos nas ruas denunciando mais uma farsa das grandes empresas a do plástico verde.

A farsa do plástico “verde”

Nos últimos tempos vem crescendo a preocupação da sociedade com a contaminação da natureza e a saúde humana, em função disso as grandes empresas criam produtos que dizem ser sustentáveis e constroem uma imagem social positiva. Mas, na prática esse “capitalismo verde” se sustenta na exploração dos trabalhadores e nos grandes financiamentos públicos para seus investimentos.

Um exemplo disso é a empresa Braskem, ligada ao grupo Odebrecht, instalada no pólo petroquímico de Triunfo, aqui no RS. Em 2010 uma pequena parte da produção de plástico dessa empresa passou a ser feita a partir da cana de açúcar, o chamado de “Plástico Verde”. Para isso recebeu grandes financiamentos e incentivos fiscais, além de apoio dos políticos e da mídia.

Hoje estamos aqui para denunciar que o plástico verde é uma farsa. Segundo a Braskem esse plástico seria “limpo”, diferente do produzido à base do petróleo, porém o único diferencial entre eles é a matéria prima utilizada para produzi-los. O plástico verde não é biodegradável, leva o mesmo tempo que o plástico à base de petróleo para se decompor. E mais, como a matéria-prima é hoje importada de outros estados para trazê-la até a fábrica de Triunfo se contamina mais o meio ambiente do que se fosse produzido a partir do petróleo.

Para a Braskem produzir este plástico aparentemente “limpo” em grande quantidade é necessário ampliar muito a produção de cana de açúcar no RS. A meta da empresa é plantar 1,8 milhão de hectares de cana no RS, que será transgênica, já que a planta convencional não é apropriada para regiões de clima frio. Os plantios de cana já estão se espalhando em várias regiões gaúchas inviabilizando ainda mais a agricultura familiar.

Denunciamos que a expansão desses monocultivos causa enormes prejuízos para a população urbana e rural pois é a principal causa dos altos preços dos alimentos, da continuidade do êxodo rural, da poluição dos solos, das águas e do ar devido a grande utilização de agrotóxicos. Por isso quanto mais se espalham as grandes lavouras para fábricas como a Braskem maior é a fome, a pobreza e a destruição ambiental no estado. E as mulheres e crianças são as maiores vítimas.

Somos contra a política do governo federal, que segue agora sob o comando de Dilma, que têm usado as riquezas do nosso país e o dinheiro das brasileiras e brasileiros para financiar esse tipo de projeto que subordina a classe trabalhadora à miséria enquanto as empresas privadas faturam bilhões. Para a construção da fábrica de Plástico Verde da Braskem em Triunfo-RS foram utilizados cerca de R$ 450 milhões de reais, destes 70% vieram do BNDES, e outra quantia significativa da Petrobrás. Mais de 80% da construção da fábrica foi financiada pelo Estado brasileiro.

Os problemas ambientais do planeta e as injustiças sociais não serão resolvidos com falsas soluções como a do plástico verde, mas só com a redução do consumo de plásticos, agroquímicos, com a redução dos monocultivos. Queremos mais feijão e menos plástico!

Mulheres de preto

Estamos hoje vestidas de preto e em silêncio para lembrar que nós mulheres temos sido silenciadas pelas várias formas de violência, que não temos voz na definição dos rumos do nosso país. Queremos nos solidarizar com as mulheres que em todo o mundo usam esse tipo de manifestação para denunciar as condições de pobreza e dominação social em que vivem a maioria da população feminina.

Hoje temos no Brasil uma mulher na presidência, no entanto a primeira medida que toma é cortar orçamento para garantir recursos para pagar dívidas aos bancos. Isto significa que não temos o que comemorar neste 8 de março, pelo contrário, agora é sob o comando de uma mulher que a política econômica que penaliza os pobres e favorece os ricos está sendo implementada.

O preto e o silêncio manifestam nossa indignação com as desigualdades e injustiças produzidas para favorecer os donos do poder, e também nossa indignação com o papel de servidora do capital que a presidente Dilma assumiu.

É preciso fortalecer a luta das mulheres

Aparentemente o Brasil vai bem, mas a vida da população trabalhadora pobre, principalmente das mulheres pobres, segue uma luta constante. A economia brasileira cresceu 7,81% em 2010, segundo o Banco Central. Porém nós da classe trabalhadora continuamos ferrados!!! O salário mínimo continua defasado.

Segundo o DIEESE deveríamos receber 2.500,00 por mês para dar conta das necessidades básicas de uma família de 4 pessoas, no entanto o salário está em 545,00 reais.

Dizem que o número de empregos cresce mas nós mulheres pobres só encontramos vagas no mercado informal, em empregos precarizados e terceirizados, sem direitos trabalhistas, porque falta creches e escolas de turno integral em que possamos deixar nossas crianças e nos dedicarmos ao trabalho e ao estudo. Para as empresas os governos liberam cada vez mais recursos, mas nunca tem recursos para construir creches, nem para garantir educação e saúde pública integral.

O desenvolvimento dessas grandes empresas e da economia brasileira não resolvem os problemas da classe trabalhadora e tem sustentado essa sociedade patriarcal. O aclamado desenvolvimento tem engordado os cofres das transnacionais, e ao mesmo tempo está intensificando a concentração de riqueza, envenenando a população com agrotóxicos e poluindo o meio ambiente.

A classe trabalhadora continua sendo explorada no campo e na cidade. e nós mulheres duplamente exploradas, por sermos trabalhadoras e por sermos mulheres!

8 de março: dia de luta das mulheres contra o capital

O 8 de março é uma data que foi construída como dia de luta das mulheres porque várias companheiras socialistas no início do século XX organizaram lutas contra a exploração e opressão das mulheres, chagando inclusive a iniciar um revolução socialista na Rússia. Então o 8 de março não é só o dia das mulheres, mas é o dia das mulheres em luta contra a exploração e opressão da sociedade capitalista.

Estamos em luta também para denunciar as violências da sociedade atual e para dizer que onde há capitalismo, existe uma estrutura econômica, social, política e cultural que inferioriza nós mulheres.

Somos as que trabalhamos mais gerando lucros para os patrões e ganhamos menos, somos as que sofremos violência com a violência doméstica e com a violência do Estado burguês machista, somos as que produzimos alimentos na agricultura camponesa, mas somos as últimas a comer. Porém somos também as que sabem se rebelar e por isso denunciamos a ação do capital, do Estado e do patriarcado que nos mantém nesta situação de miséria e violência.

Mulheres da Via Campesina, MTD, Levante da Juventude